Lojas com História, são a herança de uma comunidade, que atesta uma relação de serviço e emoção. O tempo e as adversidades não foram suficientes para anular este pedaço da Misericórdia. Nos nossos dias há que desfrutar desta oportunidade única, de sentir o comércio na sua vertente de maior proximidade e aprender a história de cada um destes locais de encantar.
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Pavilhão Chinês
Um texto à imagem desta loja seria uma lista. Exaustiva, fascinante, excessiva, sem critério óbvio, qualquer coisa da qual os olhos não se pudessem despegar – como as estantes que cobrem as paredes deste “Pavilhão”. Começaria assim: Um soldadinho de chumbo, um arlequim, um bule de cerâmica, uma medalha, um manguito, uma espada, uma estatueta de uma pin-up ao telefone, um capacete militar, um cartaz do carnaval do Rio de 1890, aviõezinhos – muitos, canecas várias, emblemas vários, insígnias várias, e mais aviões de guerra e mais exércitos, um comboio, um mapa, um ‘action man’, uma bandeira, o busto do Pessoa, mais Bordalo Pinheiro, um jogador de futebol, um globo, leques, uma cantora de ópera, duas banhistas, um paraquedista, a Betty Boop e não acabava mais. É também isto o Pavilhão Chinês, um incrível exercício de excesso que faz lembrar a cultura do Wunderkammer alemão, os famosos “gabinetes de curiosidades” ou “quartos das maravilhas” dos séculos XVI e XVII, em que colecionadores reuniam todo o tipo de maravilhas que iam chegando ao olhar europeu, do recém-descoberto mundo das expansões marítimas. Foi uma época de assombro e expansão para o saber, e os Wunderkammern materializaram isso, bem como as cinco salas deste singular bar nos relembram. Uma campainha toca, e um empregado vestido a rigor – calças pretas de vinco, colete e laço vermelhos por cima da camisa branca – recebe os clientes e acompanha-os à mesa. A atmosfera é animada por vários idiomas, o ambiente de um bar cosmopolita onde se experimentam cocktails e se joga snooker. É das Lojas Com História uma das mais recentes, apesar de tudo nela remeter a tempos idos, como se além de ser um bar fosse também um museu. Abriu as portas em 1986, mas conservou a memória do anterior negócio, como ali existia desde 1901. Este tato e toda esta coleção deve-se a Luís Pinto Coelho, um homem singular que sonhou isto tudo, e trouxe a experiência acumulada de outros bares – o Paródia, o Foxtrot, o Procópio – para oferecer a Lisboa este espaço único.
Localização: Rua Dom Pedro V 89, 1250-093 Lisboa
Horário: De domingo a sexta-feira das 18h00 às 02h00. -
Padaria S. Roque
Esta “Catedral do Pão”, na esquina da D. Pedro V com a Rua da Rosa, é uma das padarias mais antigas da cidade ainda em funcionamento. A construção do edifício onde se encontra será posterior a 1899 e ocupa parte do terreno do antigo Palácio dos Salemas, demolido em 1883 para alargamento da Rua do Moinho de Vento, hoje D. Pedro V.
Em 1961, teve lugar a unificação das padarias do Bairro Alto, por decisão governamental, tendo passado a integrar a Panificação Reunida de S. Roque, Lda, sociedade comercial da qual fazem parte sete padarias, uma fábrica de pão e bolos e um depósito de pão. A Padaria São Roque destaca-se das restantes pela longevidade e pela exuberante decoração interior de inspiração Arte Nova. É também aqui que encontra, além de pão e pastelaria de fabrico próprio, a broa de Coimbra, uma especialidade da casa que não encontrará noutro lugar.Localização: Rua Dom Pedro V, 57 - 1250-092 Lisboa
Horário: Todos os dias das 06h00 às 19h00. -
Restaurante Bota Alta
O "Bota Alta" foi fundado por António Cassiano. A cozinha portuguesa e o ambiente animado e informal deste pequeno restaurante têm atraído lisboetas e turistas desde a sua abertura em 1976. As paredes estão cobertas de desenhos e caricaturas emolduradas.
Localização: Travessa da Queimada 37, 1200-364 Lisboa
Horário: De segunda a sexta, das 12h00 às 14h30 e das 19h00 às 22h45. -
Casanostra Restaurante
Carpaccio de salmão cru temperado, ravioli de trufas pretas, robalo estufado com manjericão, burrata de Andria com trufas, crostata de limão ... será que precisa de mais motivos para ir visitar esta Loja Com História...? O sabor de certos pratos é difícil de crer, mas não é mentira, apesar do restaurante ter aberto portas num primeiro de abril. Foi nos anos 80, em 1986, e em Lisboa não havia outro lugar assim, onde a cozinha italiana fosse cozinhada com os ingredientes originais, vindos de Itália, e confecionados de forma caseira, como na origem. Maria Paola Porru tinha o sonho de poder financiar a sua relação ao cinema com o restaurante, o que se provou “utópico”. Mais exequível era o sonho paralelo, hoje concretizado, de mostrar aos lisboetas que a gastronomia italiana é muito mais do que só pizzas e pastas. Como o nome já indicava, esta sua Casa tornou-se também Nossa. Aqui os olhos também comem. O espaço é admirado pelas duas salas concebidas uma pela dupla de arquitetos Manuel Graça Dias e Egas José Vieira, e outra pelo arquiteto Graça Dias somente. Numa primeira intervenção fizeram uso da gama cromática do mosaico hidráulico do chão. Mais tarde, procuraram contrapor esses tons claros com uma paleta mais escura. Ocasionalmente organizam-se aqui eventos, que vão desde refeições temáticas a lançamento de livros, simpósios ou conversas. Neles, os clientes habituais e os fiéis abrem lugar para sentar aquele cliente novo que ainda não tinha arriscado vir. E assim sucessivamente.
Localização: Travessa do Poço da Cidade 60, 1200-334 Lisboa
Horário: Todos os dias das 12h30 às 14h30 e das 19h30 às 23h00. -
O Faia Restaurante
A fadista Lucília do Carmo e Alfredo de Almeida inauguraram a Adega da Lucília em 1946, no dia em que o seu filho Carlos celebrava 7 anos. Faltaria umas décadas para o pequeno Carlos se celebrizar como Carlos do Carmo. Um grande fadista que cresceu numa casa de fados, uma biografia marcadamente lisboeta. Em 1963, com 24 anos, começou a gerir o espaço, até 1980. Nesse ano O Faia é adquirido por António Ramos. Ao pai juntam-se Pedro Ramos, gerente, e Paulo Ramos, guitarrista residente. Outros artistas residentes incluem grandes nomes: Lenita Gentil e Ricardo Ribeiro, António Rocha (tido como «o rei do fado menor») e Anita Guerreiro, acompanhados por Fernando Silva e Paulo Ramos. São estrelas que trazem a sua própria clientela ou deslumbram quem aqui chega sem nunca ter ouvido falar deles. Tudo isto enquanto se desfruta de uma refeição tradicional portuguesa e se aguarda o próximo baixar das luzes, para que se instale aquele silêncio denso que só o fado preenche e expande.
Localização: Rua da Barroca 54-56, 1200-050 Lisboa
Reservas: https://www.ofaia.com/reservas.html
Telefone: 213 426 742 -
Palácio Correio Velho
No Palácio Marim-Olhão, conhecido por Correio Velho, encontra-se a leiloeira com o mesmo nome. Fundada em 1989, o seu primeiro leilão foi o da biblioteca de D. Carlos I e de D. Manuel II que, pela sua qualidade e raridade, firmou o Correio Velho no panorama nacional. Foi representante oficial da Sotheby’s, a famosa leiloeira londrina - que existe desde 1744. Em 2014, introduziu de forma pioneira os leilões online e leilões presenciais transmitidos online em directo. Na preparação de um leilão, uma equipa de conhecedores e peritos, colaboram para avaliar, catalogar e contextualizar cada peça, assim contribuindo para uma valorização dos mais diversos fenómenos de produção artística e cultural nacionais, das artes plásticas às antiguidades, passando pelos livros. De cada leilão é concebido um catálogo, deste modo ajudando a criar um arquivo e a valorizar e conhecer este património. Além disso, esta Loja Com História é parceira da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas na pós-graduação em Mercado da Arte e Colecionismo.
Localização: Calçada do Combro 38, 1200-086 Lisboa
Horário: De segunda a sexta das 09h30 às 13h30 e das 14h30 às 18h00 -
Fotografia Triunfo
A transição da fotografia analógica para a fotografia digital fez fechar muitas potenciais Lojas Com História. Outras, umas poucas, subsistiram. Seja porque se “digitalizaram” parcial ou totalmente, ou porque haverá sempre um pequeno nicho que preferirá os sais de prata e o papel mate, porque o filme tem uma expressão visual única, ou porque a loja conseguiu uma proposta de continuidade nos retratos que oferece, no saber-fazer, no aconselhamento especializado, e no arquivo. É este o caso da Triunfo. Hoje, além do mais, desempenha este papel de arquivo geracional e datado de retratos completos de todos os membros de uma família, ou uma maioria, daquela zona. Além da representação genealógica, também se encontra no arquivo retratos de figuras públicas, como o de Henrique Viana, o de Natália Correia, o de António Costa, Fernando do Amaral, Macário Correia, entre outros. Não guarda só o seu como também adquiriu o arquivo fotográfico de uma outra loja entretanto desaparecida, a Fotolusarte. Antes da sua abertura, em 1952, funcionava ali uma retrosaria. O atual proprietário começou a trabalhar na loja com apenas doze anos. Recebeu-a mais tarde por trespasse do fundador, Américo Tomás da Silva, com quem aprendeu o ofício. Hoje já não se faz aqui a revelação, mas continuam preservados os utensílios necessários. O que se faz sim são retratos, num estúdio concebido para o efeito, com cenários pintados óleo e um pequeno camarim. Todas as imagens aqui produzidas são identificadas com o carimbo da casa, uma marca distintiva e promocional que nos permite atestar a reverberação do trabalho aqui efetuado. São muitos os lares lisboetas onde ainda se pode ir descortinar retratos com este carimbo, isso seguramente. O interior da loja é pequeno, mas mantém o mobiliário original com as mesmas funções, só mudou o balcão. Nos armários de madeira lacada podemos apreciar a coleção de máquinas fotográficas, os projetores, os cenários para fundo de retrato, e certos objetos que remetem para gestos de uma coreografia mil vezes repetida, e hoje sem público: a ‘vincadeira’, os caches de ampliador, as mesas de corte...
Localização: Rua do Poço dos Negros 69, 1200-336 Lisboa
Horário: De segunda a sexta das 09h00 às 16h30 -
Tabacaria Martins
Manoel Francisco Nunes Martins abriu a tabacaria em 1916, na altura com outro tipo de oferta, como se pode ver pelas sobreviventes inscrições na pedra, na fachada do edifício: «tabacos nacionaes e estrangeiro – cervejas – águas» e «artigos de papelaria papel selado selos e letras – loterias e jornais». Outra placa, em metal, anuncia: «vendem-se estampilhas e mais fórmulas de franquia de correios e telegraphos». Mais tarde especializou-se no tabaco e na imprensa, e são esses os produtos que ali encontramos hoje. Já sob a gerência de Ana Martins, atual proprietária, ampliou-se a oferta adicionando a secção de papelaria, da qual os cadernos “moleskine” são um artigo muito procurado. Finalmente, sinal dos tempos, os últimos anos viram o proliferar de postais e outros artigos para o público que é turista. Atrás do balcão, no interior de serviço, há um armário embutido na parede, composto de pequenas gavetas ainda nela etiquetado algum nome (com a familiaridade de um simples “Sr. Mário”) ou designação (“Lotarias do Velho”). Outrora, era aqui que se guardavam as lotarias reservadas por clientes da casa. Os painéis em madeira que revestem a tabacaria são de origem. Os mesmos a que muitas fontes gostam de chamar boiseries, para quem tiver problemas com o nosso menos-chique “painéis” ou “revestimentos”. Foram um projeto do avô da atual proprietária, o fundador. O que é especial nestas boiseries (é um facto, que soa melhor!) é formarem uma peça única, unindo os armários ao balão encastrado e à própria montra. Note-se o entalhado no friso superior. Hoje vende tabaco de enrolar, cigarros e cigarrilhas, charutos, e tudo o que demais tenha a ver com fumar, e também imprensa nacional e estrangeira, material de escritório, de arquivo e impressão, bem como material escolar, jogos didáticos e os jogos da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa. É dos poucos lugares em Lisboa onde se podem adquirir bilhetes para os espetáculos da vizinha ZDB, a galeria Zé dos Bois.
Localização: Largo Calhariz 4, 1200-050 Lisboa
Horário: Todos os dias das 08h30 às 20h00 -
Casa das Velas
É uma das lojas mais antigas da cidade e, entre as Lojas Com História, aquela que há mais tempo se mantém no mesmo local, na mesma família, e a produzir e vender o mesmo produto desde 1789. Sete, oito, nove, esta sucessão ordeira de algarismos remete a uma Lisboa que nos pede um exercício de imaginação. É visualizar uma cidade extensamente rural, com os ofícios concentrados no Chiado e na Baixa e muitos vendedores de rua, carruagens, muito bulício e, claro, nenhuma outra fonte de luz artificial. A vela tinha um protagonismo neste tempo que necessariamente perdeu: era iluminação fácil de gerar e era portátil. Quando o progresso traz a iluminação pública, depois privada para algumas elites, primeiro a gás e só décadas mais tarde a eletricidade, o negócio confronta-se com o desafio de se atualizar e encontrar novas formas de pertinência. É isso o que a Caza das Vellas tem vindo a fazer tão bem ao longo dos tempos, acompanhá-los, conseguindo um equilíbrio dinâmico e difícil de encontrar entre tradição e modernidade, o valor da memória e do património e a atualização dos tempos, dos modos e costumes. Entrar nesta loja hoje não só é um deleite para os sentidos (as cores, os cheiros, um certo refúgio ao barulho da rua) como é também uma experiência satisfatória ao nível de qualquer casa moderna, nas novas velas que vão sendo imaginadas e testadas e ali produzidas (veja-se os frutos ou as velas brancas com expressivas pinceladas a negro) e ainda, fortemente, um fantástico mausoléu de memórias e evocações de outros tempos. O relógio de pêndulo que encima o arco que separa a loja das oficinas e que nos relembra que o tempo já não volta atrás. Os altos armários envidraçados que terminam em pinos ogivais, e que lembram o formato da chama. A paleta de cores resultado da cuidada disposição das velas, que se vai alterando consoante as estações e a sensibilidade apurada dos lojistas, e que faz com que cada visita possa ter sempre um novo sabor. O característico aroma a mel e óleos essenciais que inunda o ar e ajuda a marcar a distância ao bulício da Rua Loreto lá fora. Nos bastidores, longe do olhar público, uma oficina a que chamam “fábrica” mantém os ancestrais processos de manufatura, como o arco de pau-santo, aliado a equipamento moderno. Ali, a produção de velas responde aos ritmos litúrgicos e sazonais: a paisagem é muito diferente antes da Páscoa ou do Natal, de Inverno ou de Verão. Isto demonstra que, seja para fins decorativos ou religiosos, a vela ainda tem o seu lugar na simbologia das nossas crenças e dos nossos gestos – pensamos nas velas para batizados – e uma presença especial nas nossas casas – uma vela bordada à mão, uma vela que só se encontra aqui e que é feita com mel, as diferentes velas aromáticas, enfim, velas de tantas formas, tamanhos, cores e aromas quanto for possível desejar. Se não encontrar uma forma para o seu desejo, certas coisas podem ser feitas por encomenda. Além disso, e como o ofício da cera não são só velas, ainda há espaço para as figuras do presépio tradicional e ex-votos, também conhecidos por “milagres”.
Localização: Rua do Loreto 53, 1200-241 Lisboa
Horário: Segunda a sexta, das 10h00 às 19h00 | Sábado das 10h00 às 13h00 -
Farmácia Barreto
"Raíz de Alteia” “Untura Forte” “Unguento d’Arthanita” “Unguento de Madre Tecla” “Unguento Branco” “Pomada de Mezereão” ... Para o leigo desprevenido, parece a recitação de alguma poção. Nalguns primórdios da ervanária e da boticária, medicina e magia facilmente se confundiram. Hoje, no entanto, já não é disso que se trata. São apenas os termos inscritos nos frascos pelos quais os nossos olhos viajam enquanto aguardamos a nossa vez na farmácia Barreto. Em disposição, vários instrumentos e complementos do ofício do boticário, que se viria a modernizar e dar lugar ao do farmacêutico. Tudo isto inserido num amplo móvel de cerejeira escura, junto aos candeeiros em bronze, os vidros trabalhados, sob o estuque do teto; um cliente dá por si a pensar que até dá gosto ter um queixume qualquer – mas que seja um lamento leve, algo que passe à primeira toma – só para vir ver o interior da farmácia. Foi fundada em 1876 por um italiano, que, no entanto, preferiu chamar-lhe Farmácia Francesa. Só mais tarde assumiu a atual morada e o atual nome, já sobre gerência de Carlos Garcia Barreto, pelo menos em 1880, que é o mais longe que a documentação nos leva. O mencionado gosto pela história e pelo espólio explica também porque foi esta farmácia uma importante contribuidora do atual Museu da Farmácia, tendo cedido muitos dos objetos que lá se podem ver, nomeadamente faiança, rótulos, e uma importante mesa de manipulação, com dois metros de largo e tampo de mármore.
Localização: Rua do Loreto 24, 1200-242 Lisboa
Horário: De segunda a sexta das 09h00 às 20h00 | Sábados das 09h00 às 13h00.