Revestimento azulejar polícromo circunscrito ao piso térreo de um edifício pombalino, entre a cantaria do soco e a do friso de transição para o piso superior, onde painéis dispostos verticalmente e interligados na parte superior se encontram organizados em torno dos vãos do r/c, formando dois conjuntos separados por uma larga pilastra.
Datados do primeiro quartel do séc. XX, foram pintados por António Luís de Jesus, com recurso à técnica da faiança, na Fábrica de Campo de Ourique, traduzindo um arrojado grafismo Arte Nova pouco comum em Lisboa. A sua temática, alusiva ao espaço de então, uma antiga fábrica/loja de tintas e pincéis, está bem patente nos referidos painéis, que exibem medalhões circulares e ovais, inscritos em emolduramentos simétricos, de gramática vegetalista e tratamento formal Arte Nova. O azulejo surge, assim, utilizado não só como elemento decorativo, mas também como meio identificativo da fábrica/loja e publicitário dos produtos da mesma. O conjunto à esquerda da pilastra é constituído por três painéis verticais, de fundo amarelo, onde se inscrevem cartelas vegetalistas de linhas estilizadas e ondulantes, as quais, no painel central, mais largo, germinam numa flor e enquadram um medalhão com a representação em trompe-l’oeil de um conjunto de trinchas penduradas numa escápula. A encimar o conjunto, um estreito painel horizontal, de fundo azul, desenvolve as mesmas sinuosidades vegetalistas e, recorrendo uma vez mais à ilusão da pintura, evidencia ao centro uma placa circular, semelhante às de metal moldado, relevado e aparafusado, da marca registada: “Zebra” e “Best Portland Cement”, “Trade Mark”, “Belgium”, que emoldura uma representação do referido animal. O conjunto de painéis à direita da pilastra segue a mesma lógica e tipo de representação gráfica e estilística. O painel horizontal superior exibe apenas o dinamismo sinuoso vegetalista do outro conjunto, enquanto os painéis verticais evidenciam o mesmo género de cartelas vegetalistas a emoldurar medalhões figurativos. O medalhão da esquerda, à semelhança de um registo fotográfico, representa um aspeto da fábrica em laboração, numa composição em azul e branco. Por sua vez, o medalhão da direita representa, em trompe-l’oeil, produtos da marca “Pomba”, como trinchas, pincéis, frascos, latas e outras embalagens. A sobrepujar este último medalhão, inscrita numa cartela de cor branca, surge outra placa circular com a “marca registada/Pomba”, que enquadra uma representação da referida ave. Mais tarde, na década de 90 do séc. XX, dois painéis verticais, inacabados, foram acrescentados ao conjunto, possivelmente para colmatar a destruição dos painéis originais. Alusivos à nova atividade do espaço, uma agência de viagens, os seus medalhões centrais foram, entretanto, substituídos por composições representativas dos utensílios e materiais da fábrica/loja anteriormente referidos.
Largo do Corpo Santo, 19-23, Lisboa